Já que na semana passada todos
os olhares foram voltados para o jogo entre Bayern de Munique e Chelsea, nesta
semana vou focar em análises sobre os últimos jogos da equipe campeã. Decidi
escrever um pouco das semelhanças e diferenças entre as partidas “Chelsea x
Barcelona” e “Chelsea x Bayern”.
Ao observar novamente os dois
jogos, percebi que existiram diversas semelhanças táticas nas duas partidas,
mas ao mesmo tempo, algumas diferenças que ao meu ver foram pontuais para
traçar o perfil das três equipes.
Ao discorrer a análise das três
equipes concomitantemente notei que a atmosfera em volta de cada uma era
completamente diferente. Todas as três tinham um tipo de pressão a carregar nas
costas. Primeiro, o Barcelona que tinha uma responsabilidade de valor mundial. Isso
significa que não era a pressão de ganhar consecutivamente outra Champions
League ou dar resposta a uma torcida ou país, mas sim conseguir cravar ao mundo
do futebol um modelo brilhante de jogo. Já o Bayern de Munique, tinha uma
responsabilidade muito mais caseira e nacional, isto é, conseguir ganhar uma
competição europeia dentro de casa, juntamente com a sua torcida. Por último, o
Chelsea tinha uma responsabilidade mais clubista, sendo que o time inglês ainda
devia uma resposta ao grande investimento recebido durante os anos
antecedentes.
As duas partidas foram muito
parecidas taticamente. Para começar, Barcelona e Bayern tiveram um percentual
de posse de bola muito maior que o Chelsea durante os 90minutos de jogo. Nos 30
minutos de prorrogação entre Chelsea e Bayern, o clube inglês conseguiu
diminuir a diferença (55% para o Bayern e 45% para o Chelsea).
Coincidentemente, mais uma semelhança: os pênaltis perdidos pelas estrelas das
duas equipes.
Em relação às movimentações
dentro de campo, pude observar que no jogo contra o Barcelona, o clube londrino
entrou em campo já com uma estrutura tática totalmente estudada e treinada
disciplinadamente por seus jogadores. Tanto em Stamford Bridge quanto no Camp
Nou, o Chelsea entrou com uma formação extremamente defensiva, jogando com uma
linha de cinco jogadores: os dois zagueiros; os dois laterais e o Obi Mikel
mais avançado. Contava com mais uma linha de quatro jogadores um pouco mais a
frente: dois jogadores de meio-campo; Kalou na ponta direita e Drogba na ponta
esquerda. Apenas Juan Mata flutuava de forma mais livre durante toda a partida
e mesmo assim ainda na metade do campo do Chelsea. O que mais me impressionou
nessa marcação foi que nos dois jogos, a equipe se portou da mesma forma. Na
parte ofensiva, a equipe demonstrou um contra-ataque bem eficiente com Lampard,
Ramires e Drogba. E, novamente, perfil ofensivo bem parecido nos dois jogos.
No jogo contra o Bayern, o
Chelsea mais uma vez mostrou uma disciplina tática eficiente, mas com algumas
diferenças dos jogos contra o Barcelona. Primeiro, o clube inglês entrou em
campo com duas linhas de quatro jogadores na defesa mais espaçadas uma das
outras do que em relação às duas linhas utilizadas contra o Barcelona. Outra
mudança foi o avanço do Mikel para a segunda linha e do Drogba como jogador
flutuante juntamente com o Mata. Na parte ofensiva, o Chelsea não conseguiu
realizar avanços em contra-ataque efetivos como os do jogo contra o Barcelona.
Fato observado justamente pela falta da válvula de escape em velocidade do
primeiro jogo: Ramires. Observou-se, desta forma, ataques inoperantes de chutes
diretos da intermediária em busca de um único jogador: Drogba. Insucesso
absoluto. Esta situação ocorreu até os 40 minutos do segundo tempo.
O Barcelona, assustadoramente
mais envolvente na partida, se deparou com uma estrutura tática muito
disciplinada. Guardiola e seus pupilos jamais tinham jogado contra um esquema
desses. Os espaços para atacar eram pequenos. O clube catalão entrou com sua
tradicional linha defensiva próxima ao meio de campo sem jogador na sobra,
fazendo a linha de impedimento. Contava ainda com sua usual linha ofensiva de 5
jogadores no ataque e com Busquets mais recuado, além da flutuação de Daniel
Alves como auxiliar ao ataque, principalmente em jogadas aéreas. Porém, aí foi
onde o clube sentiu dificuldade: a jogada aérea. Contra o Chelsea, essa arma do
clube espanhol foi inoperante, devido, em primeiro lugar, à grande quantidade
de defensores cobrindo os espaços dentro de toda a demarcação da grande área,
além da falta de adaptação dos jogadores do Barça com esses tipos de jogadas.
Os jogadores baixos não conseguiam encontrar espaços nem depois da entrada de
Keita.
Outro ponto decisivo para
acarretar dificuldade ao ataque espanhol foi a ineficiência em chutes de fora
da área. Mesmo com a total posse de bola, os jogadores não arriscavam e nem
criavam formas para o arremate. Observei também a insistência dos jogadores
espanhóis ao entrar com troca de passes dentro da área a todo o momento, como
de costume. Entretanto, o resultado negativo não trouxe uma mudança de postura
da equipe, pelo contrário. A insegurança em utilizar outro tipo de estratégia
fez com que os jogadores perdessem a paciência e errassem mais passes.
Já ouvi um jargão mais ou menos
assim: “Se o inimigo só estiver defendendo, abra suas portas e deixe-o atacar
para poder surpreendê-lo”. Em nenhum momento o Barcelona recuou sua marcação
para tentar surpreender o Chelsea. Não será que o erro mais mortal é achar que
somos imortais?
Para finalizar, houve um
visível abatimento de todo o time após o pênalti perdido por Messi. Os minutos
posteriores à infração foram os que tiveram maior quantidade de erros de
recepção e passe por parte dos jogadores do Barcelona.
Em relação ao Bayern, já na
metade do primeiro tempo eu cravei: “Bayern vai ganhar facilmente”! Todos os
pontos que trouxeram dificuldade ao Barcelona estavam sendo supridos pelo clube
alemão. Nas jogadas aéreas, a equipe tinha a presença de Mario Gomes e Muller
para preocupar os zagueiros e abrir espaços dentro da grande área. A equipe
alemã ainda contava com os pontas Ribery e Robben que forçavam cruzamentos
constantemente. Em relação aos arremates de fora da área, os mesmos pontas
juntamente com Schweinsteiger arriscavam diversas vezes e demonstravam perigo
ao goleiro Peter Cech. Os contra-ataques do Chelsea eram ineficientes. Nas
bolas chutadas para Drogba, a zaga tirava facilmente. Foram observados raros
tiros de canto a favor da equipe inglesa. Na defesa, as linhas mais espaçadas
do Chelsea proporcionaram uma entrada do ataque do clube alemão com maior
facilidade. Portanto, tudo apontava para o gol da equipe do Bayern.
O gol de cabeça de Muller saiu
depois de uma conquista de espaço por Mario Gomes ao utilizar seu corpo.
Realmente pela bola parada e com a altura e costume dos jogadores, a equipe
alemã conseguiu um espaço que o Barcelona não tinha capacidade de achar. Até o
gol, tudo parecia inofensivo para a equipe do Bayern. Tudo mudou quando o
técnico Jupp Heynckes sacou o Muller e colocou o zagueiro central Van Buyten
logo após o gol. Diga-se de passagem, sem nenhuma necessidade. Não vi sentido
algum na entrada do zagueiro belga, não por criticar o futebol dele, mas por
mudar drasticamente a postura da equipe.
A equipe alemã que tinha sua linha de frente bem composta e que marcava
com Ribery, Robben e Muller a saída de bola do Chelsea, se recuou
lamentavelmente. Qual seria o sentido de colocar mais um zagueiro na equipe, já
que o time não vinha sofrendo ataques de bola aérea e nem jogadas ofensivas de
desigualdade numérica na linha mais defensiva?! Logo após a entrada do
zagueiro, o time inglês deixou um espaço maior para o Chelsea entrar na segunda
linha defensiva e a pressão acarretou em um escanteio. Justamente na jogada
aérea, ponto em que o clube alemão teria que estar mais forte pela entrada de
mais um zagueiro, a equipe sofreu o gol.
Não justifico a derrota do
Bayern devido à entrada de Van Buyten, mas a configuração ofensiva do time
alemão mudou tanto depois da modificação, que a posse de bola das duas equipes
se equilibrou na prorrogação. Não foi o fato de perder o Muller que acarretou a
mudança, mas também por observar o zagueiro Tymoshchuk se tornando o
responsável por armar as jogadas da linha defensiva ao invés do Kroos que
estava realizando esta função nos 90 minutos. Além disso, o próprio Kross teve
que sair da sua posição de origem e se colocar na linha de frente exercendo a
função do Muller. A grande quantidade de erros de passe ocorreu justamente por
esses jogadores. Aliás, como estou falando de semelhanças e diferenças entre os
times, esse seria o tipo de mudança que o treinador do Barcelona dificilmente
realizaria, pelo fato de ter demonstrado e escrito várias vezes que o hábito de
se colocar zagueiro quando o time está ganhando ocasiona uma pressão ofensiva
ainda maior para equipe adversária. É lógico isso, já que a linha de marcação
do meio de campo será reduzida e os ataques mais pertos da grande área serão
mais constantes. É a chamada geometria do futebol.
Para finalizar, mais uma
semelhança com o Barça: o pênalti perdido. Desta vez, o protagonista foi o
craque Robben. E, novamente, a cena de abatimento total da equipe alemã foi
observada.
Sei que pode ter sido certo ou
errado, bonito ou feio e chato ou legal, mas só teve um campeão: o Chelsea. As
análises descritas podem ou não servir como justificativas das vitórias ou das
derrotas das equipes. Sempre ouvi do meu avô João a frase: “Os vencedores
comemoram e os perdedores justificam”! Assim sendo, nada mais justo de tentar
justificar tanto uma vitória quanto uma derrota dentro desse esporte
injustificável.