quinta-feira, 24 de maio de 2012

Chelsea x Barcelona e Chelsea x Bayern de Munique: semelhanças e diferenças


Já que na semana passada todos os olhares foram voltados para o jogo entre Bayern de Munique e Chelsea, nesta semana vou focar em análises sobre os últimos jogos da equipe campeã. Decidi escrever um pouco das semelhanças e diferenças entre as partidas “Chelsea x Barcelona” e “Chelsea x Bayern”.

Ao observar novamente os dois jogos, percebi que existiram diversas semelhanças táticas nas duas partidas, mas ao mesmo tempo, algumas diferenças que ao meu ver foram pontuais para traçar o perfil das três equipes.

Ao discorrer a análise das três equipes concomitantemente notei que a atmosfera em volta de cada uma era completamente diferente. Todas as três tinham um tipo de pressão a carregar nas costas. Primeiro, o Barcelona que tinha uma responsabilidade de valor mundial. Isso significa que não era a pressão de ganhar consecutivamente outra Champions League ou dar resposta a uma torcida ou país, mas sim conseguir cravar ao mundo do futebol um modelo brilhante de jogo. Já o Bayern de Munique, tinha uma responsabilidade muito mais caseira e nacional, isto é, conseguir ganhar uma competição europeia dentro de casa, juntamente com a sua torcida. Por último, o Chelsea tinha uma responsabilidade mais clubista, sendo que o time inglês ainda devia uma resposta ao grande investimento recebido durante os anos antecedentes.

As duas partidas foram muito parecidas taticamente. Para começar, Barcelona e Bayern tiveram um percentual de posse de bola muito maior que o Chelsea durante os 90minutos de jogo. Nos 30 minutos de prorrogação entre Chelsea e Bayern, o clube inglês conseguiu diminuir a diferença (55% para o Bayern e 45% para o Chelsea). Coincidentemente, mais uma semelhança: os pênaltis perdidos pelas estrelas das duas equipes. 

Em relação às movimentações dentro de campo, pude observar que no jogo contra o Barcelona, o clube londrino entrou em campo já com uma estrutura tática totalmente estudada e treinada disciplinadamente por seus jogadores. Tanto em Stamford Bridge quanto no Camp Nou, o Chelsea entrou com uma formação extremamente defensiva, jogando com uma linha de cinco jogadores: os dois zagueiros; os dois laterais e o Obi Mikel mais avançado. Contava com mais uma linha de quatro jogadores um pouco mais a frente: dois jogadores de meio-campo; Kalou na ponta direita e Drogba na ponta esquerda. Apenas Juan Mata flutuava de forma mais livre durante toda a partida e mesmo assim ainda na metade do campo do Chelsea. O que mais me impressionou nessa marcação foi que nos dois jogos, a equipe se portou da mesma forma. Na parte ofensiva, a equipe demonstrou um contra-ataque bem eficiente com Lampard, Ramires e Drogba. E, novamente, perfil ofensivo bem parecido nos dois jogos. 

No jogo contra o Bayern, o Chelsea mais uma vez mostrou uma disciplina tática eficiente, mas com algumas diferenças dos jogos contra o Barcelona. Primeiro, o clube inglês entrou em campo com duas linhas de quatro jogadores na defesa mais espaçadas uma das outras do que em relação às duas linhas utilizadas contra o Barcelona. Outra mudança foi o avanço do Mikel para a segunda linha e do Drogba como jogador flutuante juntamente com o Mata. Na parte ofensiva, o Chelsea não conseguiu realizar avanços em contra-ataque efetivos como os do jogo contra o Barcelona. Fato observado justamente pela falta da válvula de escape em velocidade do primeiro jogo: Ramires. Observou-se, desta forma, ataques inoperantes de chutes diretos da intermediária em busca de um único jogador: Drogba. Insucesso absoluto. Esta situação ocorreu até os 40 minutos do segundo tempo.

O Barcelona, assustadoramente mais envolvente na partida, se deparou com uma estrutura tática muito disciplinada. Guardiola e seus pupilos jamais tinham jogado contra um esquema desses. Os espaços para atacar eram pequenos. O clube catalão entrou com sua tradicional linha defensiva próxima ao meio de campo sem jogador na sobra, fazendo a linha de impedimento. Contava ainda com sua usual linha ofensiva de 5 jogadores no ataque e com Busquets mais recuado, além da flutuação de Daniel Alves como auxiliar ao ataque, principalmente em jogadas aéreas. Porém, aí foi onde o clube sentiu dificuldade: a jogada aérea. Contra o Chelsea, essa arma do clube espanhol foi inoperante, devido, em primeiro lugar, à grande quantidade de defensores cobrindo os espaços dentro de toda a demarcação da grande área, além da falta de adaptação dos jogadores do Barça com esses tipos de jogadas. Os jogadores baixos não conseguiam encontrar espaços nem depois da entrada de Keita.

Outro ponto decisivo para acarretar dificuldade ao ataque espanhol foi a ineficiência em chutes de fora da área. Mesmo com a total posse de bola, os jogadores não arriscavam e nem criavam formas para o arremate. Observei também a insistência dos jogadores espanhóis ao entrar com troca de passes dentro da área a todo o momento, como de costume. Entretanto, o resultado negativo não trouxe uma mudança de postura da equipe, pelo contrário. A insegurança em utilizar outro tipo de estratégia fez com que os jogadores perdessem a paciência e errassem mais passes. 

Já ouvi um jargão mais ou menos assim: “Se o inimigo só estiver defendendo, abra suas portas e deixe-o atacar para poder surpreendê-lo”. Em nenhum momento o Barcelona recuou sua marcação para tentar surpreender o Chelsea. Não será que o erro mais mortal é achar que somos imortais?

Para finalizar, houve um visível abatimento de todo o time após o pênalti perdido por Messi. Os minutos posteriores à infração foram os que tiveram maior quantidade de erros de recepção e passe por parte dos jogadores do Barcelona.

Em relação ao Bayern, já na metade do primeiro tempo eu cravei: “Bayern vai ganhar facilmente”! Todos os pontos que trouxeram dificuldade ao Barcelona estavam sendo supridos pelo clube alemão. Nas jogadas aéreas, a equipe tinha a presença de Mario Gomes e Muller para preocupar os zagueiros e abrir espaços dentro da grande área. A equipe alemã ainda contava com os pontas Ribery e Robben que forçavam cruzamentos constantemente. Em relação aos arremates de fora da área, os mesmos pontas juntamente com Schweinsteiger arriscavam diversas vezes e demonstravam perigo ao goleiro Peter Cech. Os contra-ataques do Chelsea eram ineficientes. Nas bolas chutadas para Drogba, a zaga tirava facilmente. Foram observados raros tiros de canto a favor da equipe inglesa. Na defesa, as linhas mais espaçadas do Chelsea proporcionaram uma entrada do ataque do clube alemão com maior facilidade. Portanto, tudo apontava para o gol da equipe do Bayern.

O gol de cabeça de Muller saiu depois de uma conquista de espaço por Mario Gomes ao utilizar seu corpo. Realmente pela bola parada e com a altura e costume dos jogadores, a equipe alemã conseguiu um espaço que o Barcelona não tinha capacidade de achar. Até o gol, tudo parecia inofensivo para a equipe do Bayern. Tudo mudou quando o técnico Jupp Heynckes sacou o Muller e colocou o zagueiro central Van Buyten logo após o gol. Diga-se de passagem, sem nenhuma necessidade. Não vi sentido algum na entrada do zagueiro belga, não por criticar o futebol dele, mas por mudar drasticamente a postura da equipe.  A equipe alemã que tinha sua linha de frente bem composta e que marcava com Ribery, Robben e Muller a saída de bola do Chelsea, se recuou lamentavelmente. Qual seria o sentido de colocar mais um zagueiro na equipe, já que o time não vinha sofrendo ataques de bola aérea e nem jogadas ofensivas de desigualdade numérica na linha mais defensiva?! Logo após a entrada do zagueiro, o time inglês deixou um espaço maior para o Chelsea entrar na segunda linha defensiva e a pressão acarretou em um escanteio. Justamente na jogada aérea, ponto em que o clube alemão teria que estar mais forte pela entrada de mais um zagueiro, a equipe sofreu o gol.

Não justifico a derrota do Bayern devido à entrada de Van Buyten, mas a configuração ofensiva do time alemão mudou tanto depois da modificação, que a posse de bola das duas equipes se equilibrou na prorrogação. Não foi o fato de perder o Muller que acarretou a mudança, mas também por observar o zagueiro Tymoshchuk se tornando o responsável por armar as jogadas da linha defensiva ao invés do Kroos que estava realizando esta função nos 90 minutos. Além disso, o próprio Kross teve que sair da sua posição de origem e se colocar na linha de frente exercendo a função do Muller. A grande quantidade de erros de passe ocorreu justamente por esses jogadores. Aliás, como estou falando de semelhanças e diferenças entre os times, esse seria o tipo de mudança que o treinador do Barcelona dificilmente realizaria, pelo fato de ter demonstrado e escrito várias vezes que o hábito de se colocar zagueiro quando o time está ganhando ocasiona uma pressão ofensiva ainda maior para equipe adversária. É lógico isso, já que a linha de marcação do meio de campo será reduzida e os ataques mais pertos da grande área serão mais constantes. É a chamada geometria do futebol.

Para finalizar, mais uma semelhança com o Barça: o pênalti perdido. Desta vez, o protagonista foi o craque Robben. E, novamente, a cena de abatimento total da equipe alemã foi observada.

Sei que pode ter sido certo ou errado, bonito ou feio e chato ou legal, mas só teve um campeão: o Chelsea. As análises descritas podem ou não servir como justificativas das vitórias ou das derrotas das equipes. Sempre ouvi do meu avô João a frase: “Os vencedores comemoram e os perdedores justificam”! Assim sendo, nada mais justo de tentar justificar tanto uma vitória quanto uma derrota dentro desse esporte injustificável.

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