Atualmente, o futebol
brasileiro se encontra em um momento muito diferente do que era decorrente há
6, 7 e 8 anos atrás. Os clubes do futebol nacional, a cada ano que passa,
conseguem “repatriar” um enorme número de jogadores que fizeram e ainda têm
condições de fazer sucesso nos clubes da Europa e com a camisa de seleções
nacionais. Ronaldinho Gaúcho, Deco, Fred, Elano, Liedson, Renato, Juninho,
Vagner Love, Gilberto Silva e Adriano são alguns nomes dessa vasta lista. Os
motivos para o retorno são os mais diversos.
Muitos especialistas associam o
“repatriamento” à recente crise econômica que a Europa enfrentou e que alguns países
ainda enfrentam. Isso pode mostrar a volta de vários jogadores ainda jovens,
mas que não foram efetivos em relação custo-benefício na avaliação dos clubes
europeus. Os dirigentes dos clubes brasileiros enfatizam a evolução da gestão e
do poder mercadológico do futebol brasileiro para realização de contratações
consideradas, anos atrás, como impossíveis. Já os jogadores, levam os motivos
mais para o lado pessoal, alegando falta de adaptação com o ambiente fora do
país ou do estado onde sempre viveram. Muitos ainda voltam falando do amor pela
camisa do clube de coração.
Motivos à parte, a ideia deste
texto não é falar o que realmente acarreta a volta desses jogadores ou coisa
parecida, mas sim, analisar como que esses jogadores estão voltando e desta forma
chegar ao tema da postagem de hoje: a preleção.
Independentemente das opiniões
diversas sobre o desempenho desses jogadores, é inevitável afirmar que a volta
da maioria deles é marcada por um perfil cada vez mais de liderança tanto
dentro do ambiente do clube, quanto dentro de campo. Os jogadores que fazem
parte da tal lista são os mais procurados pela imprensa, costumam ser os
capitães das equipes em que jogam, são os mais cobrados dentro de campo e ainda
conseguem encantar nas partidas.
São várias as perguntas que
aparecem acerca dessa reflexão: As revelações já não conseguem mais suprir as
necessidades do alto nível em que o futebol nacional se encontra? Os
treinamentos dos times europeus são bem melhores do que os nossos? As categorias de base não conseguem mais
revelar jogadores como antes? Os clubes brasileiros preferem apostar em
jogadores que possam dar resultado em curto prazo do que investir em projetos
de categorias de base em longo prazo? São apenas coincidências na maneira de
jogar dos jogadores? Ou é só um momento do futebol brasileiro e isso é
passageiro?
A minha ideia não é responder
nenhuma das questões acima, ainda mais porque são perguntas rotineiramente
comentadas no mundo futebolístico. Acreditando que nunca um momento dentro do
futebol se justifica por uma única razão, vou analisar a relação da preleção
como fator diferencial entre o futebol brasileiro e o futebol europeu.
Certo dia, no intervalo do
treinamento que realizei para trabalhar nos Estados Unidos como treinador, eu
estava conversando com dois treinadores que são meus amigos sobre diversos
assuntos do futebol, já que os dois também são apaixonados pelo esporte. O
assunto “Neymar” surgiu no ambiente. Não sei se fui eu, o Vitor Neves ou o
Paulo Sivieri que fez a pergunta, mas sei que o questionamento era o seguinte: “o
Neymar deve sair ou não do Brasil antes da Copa”? A minha resposta foi sim, já
que lá fora ele iria estudar muito mais sobre o futebol. Na verdade, a resposta
poderia até ser: “Sim, porque lá fora ele iria ter verdadeiras preleções”.
A preleção é um termo muito
utilizado no futebol e faz parte do dia-a-dia de praticamente todas as equipes.
De acordo com o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra preleção
significa: “palestra com finalidade didática ou educativa; aula, lição”. A
palavra prelecionar significa: “fazer preleções; dar preleção ou lição;
lecionar; ensinar; discursar em público”.
O que todas essas definições
nos mostram? Significa que a preleção é um ambiente de aprendizado onde são
observadas lições, aulas, ensinamentos e onde é respeitado um espaço para
discussões. No futebol não pode ser diferente. A preleção não pode ser
confundida com palestra de motivação antes do jogo. Não que eu seja contra
isso, muito pelo contrário, mas a preleção é muito mais que estímulos minutos
antes do jogo. Não se pode pensar em preleção apenas no dia do jogo. Os
ensinamentos devem ser dados diariamente nos treinamentos. O grande problema é
que os clubes de futebol brasileiro ainda não conseguem utilizar meios
didáticos para fazer com que os jogadores entendam mais sobre o futebol e suas
dimensões dentro do campo.
Visivelmente, podemos observar
a diferença na leitura e entendimento de jogo dos jogadores que foram para a
Europa e voltaram para jogar em clubes brasileiros. É comum observarmos
jogadores como o Renato, Deco, Elano e Juninho jogarem como meias armadores,
mesmo não sendo suas posições de origem. A inteligência dentro de campo desses
jogadores supera a capacidade física dos demais jogadores do futebol nacional.
Peço licença para escrever uma frase que meu amigo Paulo Sivieri sempre fala:
“Até o Sergio Busquets do Barcelona seria camisa 10 no Brasil”. Será que eu
estou sendo muito sonhador mais uma vez? O futebol brasileiro ainda deve
continuar com treinamentos diários dentro de campo, visando principalmente a
parte física? É errado tirar os jogadores do campo de jogo e levar para uma
sala de vídeo e mostrar situações táticas dos adversários? Como se constrói uma
filosofia de jogo só pela prática?
Para finalizar, acredito que o
futebol mundial segue tendências. Realmente, o Brasil ainda não entrou na
tendência dos grandes times europeus em ensinar o futebol para os jogadores. Talvez
um dia, possamos ver jogadores brasileiros saindo no dia de folga da
concentração para ver o seu futuro adversário jogar, como os principais
jogadores do Barcelona fizeram, por conta própria, na final do mundial contra o
Santos. Quem sabe também, possamos ver jogadores estudarem disciplinadamente
para um dia poder ganhar da melhor equipe do mundo, como o Chelsea fez contra o
Barcelona.
O estudo do futebol não é uma
bobagem, mas sim uma realidade, uma evolução. Não podemos ficar só no mesmo,
pelo contrário, precisamos trazer coisas novas. A nova era do futebol e suas
novidades não partem da moda Brasil como anos atrás. Acho que ainda não demos
conta disso. Enquanto isso, vamos nos contentar em ver dirigentes precisando
mandar carta de recomendação para jogadores dormirem mais cedo e em ver
treinadores delegando diversas funções para o jogador suplente que vai entrar
no segundo tempo, sendo que tudo que está sendo falado entra em um ouvido e sai
pelo outro.
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