Ainda devo
postar duas das quatro histórias que eu escrevi na minha aventura esportiva em
pleno sudeste brasileiro, há duas semanas atrás, quando fui chamado para o
último treinamento para trabalhar como treinador nos Estados Unidos. Na
primeira postagem, falei um pouco sobre o processo de conhecimento da
TetraBrazil e do espaço inédito que a empresa atinge no Brasil. Posteriormente,
fiz uma postagem falando do meu incrível encontro com o ex-jogador, ídolo e
atual administrador do Estádio Municipal Radialista Mario Helênio de Juiz de
Fora (MG), local onde o único time profissional da cidade, o Tupi Futebol
Clube, manda seus jogos. Nesse mesmo dia de visita pela manhã, eu e meu avô
tivemos a ideia de observar o treino do Tupi na parte da tarde. Assim sendo, o
treino que observei e um torcedor fanático que conheci na arquibancada do
precário centro de treinamento do clube foram os temas dessa minha terceira
postagem.
Na tarde do
dia 26 de abril de 2012, eu e meu avô Paulo pegamos o carro e seguimos para o
campo onde o Tupi realiza alguns de seus treinos. Primeiramente, achávamos que
o time iria treinar no próprio estádio do município, mas felizmente Toledinho
nos informou que naquele dia o treino seria no bairro cujo nome, se não me engano,
era Terezinha. Digo felizmente, porque seria improvável que ocorresse a
satisfatória conversa com Toledo, se houvesse treino da equipe no estádio.
Saí do
estádio bem entusiasmado por dois motivos: pela manhã agradável que tive ao
conhecer um bonito estádio e um bom contador de histórias; e por acreditar que
acompanharia um bom treinamento do Tupi naquela tarde, sobretudo pelo fato de
ser o treinamento de quinta-feira, ou seja, o último treinamento da equipe em
Juiz de Fora, antes do segundo jogo da semifinal contra o Atlético-MG pelo
campeonato mineiro.
Cheguei ao
pequeno estádio e logo me deparei com semelhanças intensas com o que observo no
Distrito Federal. Para falar a verdade, vi o que é observado não só no DF, mas
em quase todos os times profissionais do Brasil. Vamos ver se algum leitor
também encontra semelhanças: Campo e arquibancada pequenos; gramado não
tratado; presidente na beira de campo conversando com uns dois ou três
jogadores em particular; treinador com os braços cruzados observando os
treinamentos dos auxiliares sem falar um “piu” com o tom de autoridade;
jogadores dando o velho “migué” no treinamento da metade do campo em que o
treinador não estava; os “craques” treinando separados do restante do grupo e
com a atenção completa do treinador; jornalistas na beira de campo
entrevistando o treinador e o artilheiro da equipe; titulares jogando de
maneira displicente com risadas a todo o momento; os reservas, coitados,
chegando com tudo para tentar uma vaguinha; um reserva brigando com um titular
por causa de uma entrada mais forte; jogadores levando petelecos na orelha
quando tomavam canetas; treinos analíticos com pouca aplicação em jogo; e por
último, mas com certeza porque eu me esqueci de vários acontecimentos, as
compressas de gelo nas coxas e panturrilhas dos jogadores titulares que “deram
o sangue” no último treino da semana.
Mais uma
vez, caí na minha própria ingenuidade em acreditar que poderia ver algo
diferente. Não me condeno por isso, na verdade, me orgulho, já que a minha esperança
me leva a conhecer lugares que eu nunca imaginaria estar. Mas sei lá, né?!
Talvez, o certo seja Toledinho que não se importa com o que acontece com o
treino, mas já é feliz por estar ali. Assim como um torcedor que conheci na
arquibancada. Não cheguei a perguntar o nome dele, mas me deixou muito
impressionado. Na arquibancada, estava eu, meu avô e mais uns 10 torcedores do
Tupi observando o treinamento. Eu, como de costume, ficava observando o treino
atentamente, enquanto que meu avô conversava com os outros torcedores da
arquibancada. As indagações de todos eram as mais variadas. Uns falavam mal do
craque do time que não estava fazendo gols, enquanto outros falavam que sem
ele, o Tupi estaria ainda na quarta divisão. Uns comentavam sobre o jogo contra
o Atlético-MG acreditando na vitória do Tupi, já que o primeiro jogo tinha sido
empate em Juiz de Fora. Outros citavam os nomes dos jogadores parecendo que
fossem melhores amigos. Como foi o caso do torcedor que citei logo acima. Fazia
tempo que eu não via um garoto tão fanático como o daquela tarde. Primeiro, me
surpreendi ao ver que era o único jovem a presenciar o treinamento. Na verdade,
em uma quinta-feira à tarde, quase todos os torcedores, a meu ver, pareciam ser
aposentados ou pessoas que moravam perto do campo.
O garoto,
que aparentava ter uns 20 anos, não parava de falar um instante na
arquibancada. Tive a impressão de que ele já conhecia todos os torcedores, como
também tudo dos jogadores. Eu não acreditava no jeito que ele falava do Tupi.
Eu continuava a observar o treinamento até quando ele falou ao meu avô: “Eu
assisto todos os jogos do Tupi! A minha mãe ainda está pagando as prestações da
minha viagem para Pernambuco, onde eu fui assistir a final da Série D entre
Santa Cruz e Tupi em 2011”. Depois da fala do torcedor, eu me desconcentrei
completamente do que estava acompanhando, virei para ele e perguntei: “Você já
conversou com alguns dos jogadores do Tupi, treinador ou com algum dirigente?”.
O garoto um pouco sem graça abaixou a cabeça e falou que conhece um pouco, mas
os jogadores não gostam dele porque fala muito. Naquele momento, eu já não
conseguia ver mais o treinamento. O garoto esqueceu minha pergunta e continuou
conversando com outros torcedores. Passaram-se 5 minutos e eu pedi ao meu avô
para irmos embora para casa.
Tenho
certeza de que nunca mais vou ver aquele garoto, mas voltei para casa pensando
nele todo o tempo. A primeira coisa que fiz quando cheguei foi escrever sobre o
que tinha ocorrido. Realmente, a força do futebol no Brasil é inexplicável.
Quantos outros torcedores como aquele garoto existem no país inteiro que torcem
dessa maneira para times muito conhecidos nacionalmente, times bem pequenos,
times amadores ou simplesmente times que fizeram parte de sua história de vida?!
No meio de milhões de torcedores, sempre existirá um jovem que acompanha todos
os jogos de um pequeno time do Brasil, idolatrando jogadores, os quais nunca o
viram e nem sabem o seu nome.
Aliás, o
segundo jogo entre Atlético-MG e Tupi acabou em 1x0 para o Atlético em Sete
Lagoas. Mais uma prestação que o garoto teve que pagar para viajar. Nada disso
importa para ele. A alegria em estar no estádio e ver seu time do coração jogar
e treinar, não tem preço.
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