quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um torcedor desconhecido


Ainda devo postar duas das quatro histórias que eu escrevi na minha aventura esportiva em pleno sudeste brasileiro, há duas semanas atrás, quando fui chamado para o último treinamento para trabalhar como treinador nos Estados Unidos. Na primeira postagem, falei um pouco sobre o processo de conhecimento da TetraBrazil e do espaço inédito que a empresa atinge no Brasil. Posteriormente, fiz uma postagem falando do meu incrível encontro com o ex-jogador, ídolo e atual administrador do Estádio Municipal Radialista Mario Helênio de Juiz de Fora (MG), local onde o único time profissional da cidade, o Tupi Futebol Clube, manda seus jogos. Nesse mesmo dia de visita pela manhã, eu e meu avô tivemos a ideia de observar o treino do Tupi na parte da tarde. Assim sendo, o treino que observei e um torcedor fanático que conheci na arquibancada do precário centro de treinamento do clube foram os temas dessa minha terceira postagem.
Na tarde do dia 26 de abril de 2012, eu e meu avô Paulo pegamos o carro e seguimos para o campo onde o Tupi realiza alguns de seus treinos. Primeiramente, achávamos que o time iria treinar no próprio estádio do município, mas felizmente Toledinho nos informou que naquele dia o treino seria no bairro cujo nome, se não me engano, era Terezinha. Digo felizmente, porque seria improvável que ocorresse a satisfatória conversa com Toledo, se houvesse treino da equipe no estádio.
Saí do estádio bem entusiasmado por dois motivos: pela manhã agradável que tive ao conhecer um bonito estádio e um bom contador de histórias; e por acreditar que acompanharia um bom treinamento do Tupi naquela tarde, sobretudo pelo fato de ser o treinamento de quinta-feira, ou seja, o último treinamento da equipe em Juiz de Fora, antes do segundo jogo da semifinal contra o Atlético-MG pelo campeonato mineiro.
Cheguei ao pequeno estádio e logo me deparei com semelhanças intensas com o que observo no Distrito Federal. Para falar a verdade, vi o que é observado não só no DF, mas em quase todos os times profissionais do Brasil. Vamos ver se algum leitor também encontra semelhanças: Campo e arquibancada pequenos; gramado não tratado; presidente na beira de campo conversando com uns dois ou três jogadores em particular; treinador com os braços cruzados observando os treinamentos dos auxiliares sem falar um “piu” com o tom de autoridade; jogadores dando o velho “migué” no treinamento da metade do campo em que o treinador não estava; os “craques” treinando separados do restante do grupo e com a atenção completa do treinador; jornalistas na beira de campo entrevistando o treinador e o artilheiro da equipe; titulares jogando de maneira displicente com risadas a todo o momento; os reservas, coitados, chegando com tudo para tentar uma vaguinha; um reserva brigando com um titular por causa de uma entrada mais forte; jogadores levando petelecos na orelha quando tomavam canetas; treinos analíticos com pouca aplicação em jogo; e por último, mas com certeza porque eu me esqueci de vários acontecimentos, as compressas de gelo nas coxas e panturrilhas dos jogadores titulares que “deram o sangue” no último treino da semana.
Mais uma vez, caí na minha própria ingenuidade em acreditar que poderia ver algo diferente. Não me condeno por isso, na verdade, me orgulho, já que a minha esperança me leva a conhecer lugares que eu nunca imaginaria estar. Mas sei lá, né?! Talvez, o certo seja Toledinho que não se importa com o que acontece com o treino, mas já é feliz por estar ali. Assim como um torcedor que conheci na arquibancada. Não cheguei a perguntar o nome dele, mas me deixou muito impressionado. Na arquibancada, estava eu, meu avô e mais uns 10 torcedores do Tupi observando o treinamento. Eu, como de costume, ficava observando o treino atentamente, enquanto que meu avô conversava com os outros torcedores da arquibancada. As indagações de todos eram as mais variadas. Uns falavam mal do craque do time que não estava fazendo gols, enquanto outros falavam que sem ele, o Tupi estaria ainda na quarta divisão. Uns comentavam sobre o jogo contra o Atlético-MG acreditando na vitória do Tupi, já que o primeiro jogo tinha sido empate em Juiz de Fora. Outros citavam os nomes dos jogadores parecendo que fossem melhores amigos. Como foi o caso do torcedor que citei logo acima. Fazia tempo que eu não via um garoto tão fanático como o daquela tarde. Primeiro, me surpreendi ao ver que era o único jovem a presenciar o treinamento. Na verdade, em uma quinta-feira à tarde, quase todos os torcedores, a meu ver, pareciam ser aposentados ou pessoas que moravam perto do campo.
O garoto, que aparentava ter uns 20 anos, não parava de falar um instante na arquibancada. Tive a impressão de que ele já conhecia todos os torcedores, como também tudo dos jogadores. Eu não acreditava no jeito que ele falava do Tupi. Eu continuava a observar o treinamento até quando ele falou ao meu avô: “Eu assisto todos os jogos do Tupi! A minha mãe ainda está pagando as prestações da minha viagem para Pernambuco, onde eu fui assistir a final da Série D entre Santa Cruz e Tupi em 2011”. Depois da fala do torcedor, eu me desconcentrei completamente do que estava acompanhando, virei para ele e perguntei: “Você já conversou com alguns dos jogadores do Tupi, treinador ou com algum dirigente?”. O garoto um pouco sem graça abaixou a cabeça e falou que conhece um pouco, mas os jogadores não gostam dele porque fala muito. Naquele momento, eu já não conseguia ver mais o treinamento. O garoto esqueceu minha pergunta e continuou conversando com outros torcedores. Passaram-se 5 minutos e eu pedi ao meu avô para irmos embora para casa.
Tenho certeza de que nunca mais vou ver aquele garoto, mas voltei para casa pensando nele todo o tempo. A primeira coisa que fiz quando cheguei foi escrever sobre o que tinha ocorrido. Realmente, a força do futebol no Brasil é inexplicável. Quantos outros torcedores como aquele garoto existem no país inteiro que torcem dessa maneira para times muito conhecidos nacionalmente, times bem pequenos, times amadores ou simplesmente times que fizeram parte de sua história de vida?! No meio de milhões de torcedores, sempre existirá um jovem que acompanha todos os jogos de um pequeno time do Brasil, idolatrando jogadores, os quais nunca o viram e nem sabem o seu nome.
Aliás, o segundo jogo entre Atlético-MG e Tupi acabou em 1x0 para o Atlético em Sete Lagoas. Mais uma prestação que o garoto teve que pagar para viajar. Nada disso importa para ele. A alegria em estar no estádio e ver seu time do coração jogar e treinar, não tem preço.

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