segunda-feira, 14 de maio de 2012

História do 15 de Novembro F.C. Um Sonho, Uma Realidade


Já escrevi três das quatro postagens relacionadas às minhas aventuras esportivas no sudeste brasileiro. Primeiro, postei um texto sobre a TetraBrazil Soccer, empresa que me contratou para trabalhar nos EUA. Segundo, comentei sobre minha satisfatória conversa com o ídolo e ex-jogador do Tupi Futebol Clube de Juiz de Fora (MG), Moacyr Toledo, mais conhecido como Toledinho. Terceiro, escrevi sobre minha presença no treinamento do Tupi e da conversa com um torcedor fanático da equipe. Hoje, dia 14 de maio de 2012, escrevo de forma longa a última experiência esportiva antes do meu retorno para Brasília. 

Dois dias depois da minha chegada à casa dos meus avós em Juiz de Fora, meu avô Paulo perguntou se eu queria passar em Laranjal e conhecer o 15 de Novembro Futebol Clube. Primeiramente, como poucos sabem, Laranjal é uma pequena cidade de Minas Gerais, local onde meu avô e meu pai nasceram. Já o 15 de Novembro é o clube em que meu avô foi, além de fundador em 1950, atleta e treinador.

Desde pequeno ouvi as histórias sobre o 15 pela boca de meu avô. Sempre pareceu uma criança falando de seu brinquedo novo. Para muitos, era só uma passagem da vida do meu avô, mas para ele, era a própria vida representada pelas histórias do clube.

No primeiro momento, após a realização da pergunta, fiquei um pouco surpreso, não pelo fato de estranhar a pergunta, mas sim porque o dia da pergunta tinha chegado. Meu pai sempre falava que um dia ele me chamaria, já que a minha vida e o futebol estão totalmente ligados. Realmente, de todos da família, eu seria a única pessoa que meu avô convidaria para conhecer o 15 depois de tantos anos. Todas as vezes que eu visitava meus avós era em época de Natal, ou seja, não havia atividades no clube, portanto não adiantaria me convidar.

Depois da minha confirmação, meu avô logo foi ligar para o pessoal de Laranjal. A ideia era chamar os jogadores no dia 01 de maio, dia do trabalhador, para se apresentarem no campo, porque eu iria comandar um treino para eles. Naquele momento, fiquei muito alegre, ainda mais porque daria um treino no local onde meu avô mais se sentia em casa.

A viagem para laranjal seria um dia após minha chegada do Staff Training com a TetraBrazil em Rio das Flores (RJ). Quando cheguei do treinamento, minha avó, um pouco cabisbaixa, falou que os sócios do 15 não tinham conseguido reunir os jogadores para o feriado. Era de se esperar! Quem jogaria em pleno feriado?! Essa informação durou poucas horas quando o treinador da equipe ligou e avisou que nós poderíamos ir porque todos já estavam à espera.

Mesmo extremamente exausto do treinamento de 3 dias seguidos, fiquei logo desperto quando vi o rosto do meu avô repleto de ansiedade pelo dia seguinte. Não poderia decepcioná-lo. 

A viagem foi chuvosa a todo o momento. Já estávamos totalmente desanimados. A ocorrência do treinamento já era incerta. Minha avó até cantou a música para Santa Bárbara dar um jeitinho de acabar com a chuva na chegada de Laranjal.

A chegada ao campo estava marcada para as 15h. Logo depois que almocei na casa da irmã da minha avó, olhei para o céu e vi que as possibilidades tinham realmente acabado. Era um temporal muito forte. Deitei na cama e fui dormir. Às 14h45, meu avô bate na porta e me chama. Fiquei quieto por uns instantes imaginando o que ele queria fazer com aquela chuva, mas quem estava na chuva era para se molhar. Literalmente. Então coloquei minha roupa e chuteira e logo partimos para o campo.

Cheguei ao Estádio Serafim Naya e entrei na chamada “Cabana”, local onde teoricamente deveria ser utilizado para reuniões dos sócios, vestiário para os jogadores e festas para a comunidade. Na prática, a “Cabana” estava em precárias condições, mas com os pedreiros trabalhando seriamente no feriado do trabalhador para mudar aquela aparência. Dentre os trabalhadores ali presentes, estavam o Sacolé, treinador de todas as categorias do clube, e o goleiro de 18 anos. 

Quando cheguei, parecia que eu era uma estrela de cinema para o pessoal do clube que estava por lá, ainda mais porque meu avô falava para cada um que aparecia que eu era isso e aquilo dentro do futebol. Na verdade, eu era só mais um entusiasmado com o momento de estar ali, fazendo o que eu mais gosto, como todos os outros garotos.

Chegamos 15h em ponto e a chuva não cessava. O goleiro não parava de falar que queria treinar mesmo com um temporal. Passaram-se 2 horas e a chuva começou a amenizar. Não acreditei que até às 17h o meu avô conseguiu conversar com todos dentro da “Cabana” sobre um único assunto: o 15 de Novembro Futebol Clube.

Já estava pronto para voltar para casa naquele fim de tarde, um pouco triste, mas com a sensação de dever cumprido, quando chegaram mais três jogadores loucos para jogar bola. Estávamos já nos despedindo do pessoal quando os três falaram que o restante estava a caminho. Quando olhei para fora, já eram mais dez chegando. No total eram 14 jogadores. De forma nenhuma eu poderia ir embora sem fazer com que esses meninos voltassem para a casa sem ao menos tocar na bola. Assim sendo, fiz o que deveria fazer.

Foi naquele dia que eu vi como o futebol entrou na vida do meu avô de uma forma contagiante. Paulo Alvarenga Domingues, um dos poucos vivos desde o início da história do 15 se sentia como um presidente, mestre de obras, treinador, jogador e torcedor ao mesmo tempo. O clube para ele não merecia estar no local onde estava, com apenas 29 sócios pagando 15 reais por mês e sua estrutura desgastada. Se o clube acabasse, uma parte da vida do meu avô também acabaria. Já não bastasse a enchente que ocasionou sérios danos a cidade de Laranjal e que paralisou todas as atividades do 15 durante anos. Ele queria ver sempre mais. Até o livro “História do 15 de Novembro F.C. Um Sonho, Uma Realidade” meu avô escreveu em 2004 para conseguir auxílio da comunidade para reerguer a história do clube em 2010. 

Realizei um treinamento com todos durante 1h. Os jogadores não queriam parar, mas a noite já não deixava e os refletores também já não acendiam. Foi uma tarde incrível. Não imaginava tanto respeito pelos jogadores e tanta satisfação pelos sócios do clube. Foi um dia que será marcado pelo resto de minha vida. Tanto na minha quanto na do meu avô. Agora sim, eu posso falar: a história do 15 de Novembro F.C.  é um sonho, uma realidade!

Texto em homenagem ao meu avô Paulo Alvarenga Domingues.


“Quero com todos me desculpar
Pela omissão de nomes
De pessoas ou fatos,
Que deixei de relacionar

Escrever a história do 15
Difícil não foi não
Pois conheço o passado e o presente
O futuro, outros escreverão.

Finalizando, quero acrescentar:
Não se acomodem
É muito fácil criticar.
O difícil é construir e conversar”.

Versos do livro “História do 15 de Novembro F.C. Um Sonho, Uma Realidade”

2 comentários:

  1. João Vitor....Maravilhoso o texto! Só quem realmente viveu e vive essa história sabe da paixão que o XV de Novembro desperta no "Sr. Paulo". Fiquei emocionado com o seu relato. Boa sorte na sua carreira e muito sucesso!
    Um grande abraço do tio Eduardo

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  2. Parabéns João Vitor. Foi um lindo relato que deixou emocionado todos nós, que vivemos essa história. Tenha a certeza que proporcionou uma grande felicidade ao seu avô Paulo e a todos aqueles que sentem saudade do tempo onde futebol era dirigido pela paixão e não pelo dinheiro, como na atualidade. Abraços do seu tio Gilson.

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