segunda-feira, 7 de maio de 2012

Toledinho: um ídolo torcedor


Há pouco mais de uma semana, viajei para Rio das Flores (RJ) para realizar meu último treinamento com a TetraBrazil com o intuito de estar apto a ir a Chicago trabalhar como soccer coach. Como de costume, fiquei alguns dias na casa dos meus avós em Juiz de Fora (MG) antes do Staff Training, já que as cidades são bem próximas, cerca de 1 hora de distância de carro. Em Juiz de Fora, meu avô teve a brilhante ideia de conhecermos os estádios e o time profissional que representam a cidade. 

Ao amanhecer, fomos visitar o estádio que a prefeitura construiu e que o Tupi Futebol Clube costuma mandar seus jogos.  Para ser sincero, não esperava muita coisa dos estádios por dois motivos: primeiro, pela falta de reconhecimento do futebol local, sendo que o Tupi é o único time profissional da cidade e que acabou de ganhar a 4ª divisão nacional; segundo, achei que seria parecido com os estádios precários do Distrito Federal, sobre os quais tive experiências como árbitro. Enganei-me completamente! 

Ao chegar no bonito, bem estruturado e bem mantido Estádio Municipal Radialista Mario Helênio, fui recebido de uma maneira tão incrível, que me senti como se fosse o presidente do clube. Moacyr Toledo, mais conhecido como Toledinho, é o atual administrador do estádio e foi o responsável por alegrar a minha manhã do dia 26/04/2012. Maior craque e ídolo da história do Fantasma do Mineirão, nome dado ao Tupi na década de 60, Toledinho mostrava as fotos, o campo, os vestiários e contava as várias histórias do clube como se fosse a primeira vez.  Dava para ver o brilho nos olhos quando ele falava de sua vida dentro daquele clube. Depois que mostrou, com um sorriso no rosto insubstituível, sua foto dividindo uma bola com Pelé em um jogo-treino entre o Fantasma do Mineirão e a seleção brasileira, que estava a caminho da Inglaterra para a Copa do Mundo de 1966, minha cabeça não parava de pensar sobre o que eu tinha acabado de observar.

A fala de Toledinho naquela manhã representou para mim o que realmente significa a noção de pertencimento torcedor-clube e clube-torcedor. Na verdade, vi mais uma vez o quão forte o futebol pode entrar na vida de uma pessoa sem que ela se dê conta. As suas palavras me mostraram o que é o verdadeiro torcer. Impressionou-me de uma forma, sobretudo porque mesmo sabendo que era o ídolo maior da história do Tupi, Toledo se sentia como se fosse um torcedor como todos os outros. Em nenhum momento, falou do Tupi com ele e o Tupi sem ele. Parecia que o Tupi sempre era com ele. Toledinho não era um mero ex-jogador contando de suas façanhas e de seus gols que nunca mais ocorrerão. Pelo contrário, era administrador, jogador, torcedor, presidente e treinador ao mesmo tempo. Sua vergonha em falar de seu retrospecto mostrava o tanto que o futebol o deixa ainda abismado, mesmo sendo um ídolo. 

Toledinho mostrava a cada frase que formava, que o Tupi não era o seu clube formador, mas sim sua criação, ou melhor ainda, seu filho que merecia toda a atenção e cuidado como se o futuro pessoal e profissional estivesse em suas mãos, o pai coruja. Não xingava jogador, treinador e dirigentes quando o time perdia. Não se importava em limpar o vestiário com cascas de banana, mexerica e pedaços de melancias jogadas ao chão pelos atletas no dia do jogo. Não se importava em ver o time perder de goleada contra outro time qualquer. Não se importava em ver seu time na 1ª, 2ª, 3ª ou 4ª divisão. Para Toledo, o Tupi Futebol Clube era o melhor filho do mundo. 

Nos tempos atuais, em que o ato de torcer está tão marginalizado pelo corporativismo das torcidas organizadas que cada vez mais pensam em interesses pessoais, Moacyr Toledo, vulgo Toledinho, ídolo da história do Fantasma do Mineirão, senhor de 80 anos, pouco estudo e com uma história de vida fantástica, deu uma aula com o tema “O que é torcer?” que poderia ser ministrada em qualquer sala de universidade.

Um comentário:

  1. Moacir Toledo nasceu em Juiz de Fora em 01 de julho de 1932. Filho de Carlos Toledo e Ana Toledo, casado com Adelina da Silva Toledo, pai de três filhos, sete netos e um bisnetos. Numa família de desportista, seu filho Paulo Henrique Toledo é professor de Educação Física, foi preparador físico do Tupi. Seu neto, Raphael Toledo é atleta profissional e atua no Novo Hamburgo, do Rio Grande do Sul. É ex-sogro do Júlio Maravilha (ex-zagueiro do Tupi). Toledo faz parte da história do Tupi, tendo atuado como atleta profissional do Clube, treinador e administrador do estádio Sales Oliveira. No futebol amador, foi campeão regional, dirigindo o Prainha da cidade de Rio Novo e campeão da Copa Bahamas, dirigindo o Nos Ball, do bairro Santa Luzia. Aos 83 anos, Toledo permanece na ativa e trabalha na administração do estádio Mário Helênio, há mais de 15 anos.
    FONTE: www.carlosferreirajf.blogspot.com

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