Há pouco mais de uma semana, viajei para Rio das Flores (RJ) para realizar meu último treinamento com a TetraBrazil com o intuito de estar apto a ir a
Chicago trabalhar como soccer coach. Como
de costume, fiquei alguns dias na casa dos meus avós em Juiz de Fora (MG) antes do Staff Training, já que as cidades são
bem próximas, cerca de 1 hora de distância de carro. Em Juiz de Fora, meu avô
teve a brilhante ideia de conhecermos os estádios e o time profissional que
representam a cidade.
Ao amanhecer, fomos visitar o estádio que a prefeitura
construiu e que o Tupi Futebol Clube costuma mandar seus jogos. Para ser sincero, não esperava muita coisa dos
estádios por dois motivos: primeiro, pela falta de reconhecimento do futebol
local, sendo que o Tupi é o único time profissional da cidade e que acabou de
ganhar a 4ª divisão nacional; segundo, achei que seria parecido com os estádios
precários do Distrito Federal, sobre os quais tive experiências como árbitro. Enganei-me
completamente!
Ao chegar no bonito, bem estruturado e bem mantido Estádio
Municipal Radialista Mario Helênio, fui recebido de uma maneira tão incrível, que
me senti como se fosse o presidente do clube. Moacyr Toledo, mais conhecido
como Toledinho, é o atual administrador do estádio e foi o responsável por alegrar
a minha manhã do dia 26/04/2012. Maior craque e ídolo da história do Fantasma do Mineirão,
nome dado ao Tupi na década de 60, Toledinho mostrava as fotos, o campo, os
vestiários e contava as várias histórias do clube como se fosse a primeira vez.
Dava para ver o brilho nos olhos quando
ele falava de sua vida dentro daquele clube. Depois que mostrou, com um sorriso
no rosto insubstituível, sua foto dividindo uma bola com Pelé em um jogo-treino
entre o Fantasma do Mineirão e a seleção brasileira, que estava a caminho da
Inglaterra para a Copa do Mundo de 1966, minha cabeça não parava de pensar
sobre o que eu tinha acabado de observar.
A fala de Toledinho naquela manhã representou para mim o que
realmente significa a noção de pertencimento torcedor-clube e clube-torcedor.
Na verdade, vi mais uma vez o quão forte o futebol pode entrar na vida de uma
pessoa sem que ela se dê conta. As suas palavras me mostraram o que é o
verdadeiro torcer. Impressionou-me de uma forma, sobretudo porque mesmo sabendo
que era o ídolo maior da história do Tupi, Toledo se sentia como se fosse um
torcedor como todos os outros. Em nenhum momento, falou do Tupi com ele e o
Tupi sem ele. Parecia que o Tupi sempre era com ele. Toledinho não era um mero ex-jogador
contando de suas façanhas e de seus gols que nunca mais ocorrerão. Pelo
contrário, era administrador, jogador, torcedor, presidente e treinador ao
mesmo tempo. Sua vergonha em falar de seu retrospecto mostrava o tanto que o
futebol o deixa ainda abismado, mesmo sendo um ídolo.
Toledinho mostrava a cada frase que formava, que o Tupi não
era o seu clube formador, mas sim sua criação, ou melhor
ainda, seu filho que merecia toda a atenção e cuidado como se o futuro pessoal
e profissional estivesse em suas mãos, o pai coruja. Não xingava jogador, treinador
e dirigentes quando o time perdia. Não se importava em limpar o vestiário com cascas
de banana, mexerica e pedaços de melancias jogadas ao chão pelos atletas no dia
do jogo. Não se importava em ver o time perder de goleada contra outro time
qualquer. Não se importava em ver seu time na 1ª, 2ª, 3ª ou 4ª divisão. Para
Toledo, o Tupi Futebol Clube era o melhor filho do mundo.
Nos tempos atuais, em que o ato de torcer está tão
marginalizado pelo corporativismo das torcidas organizadas que cada vez mais
pensam em interesses pessoais, Moacyr Toledo, vulgo Toledinho, ídolo da
história do Fantasma do Mineirão, senhor de 80 anos, pouco estudo e com uma
história de vida fantástica, deu uma aula com o tema “O que é torcer?” que
poderia ser ministrada em qualquer sala de universidade.
Moacir Toledo nasceu em Juiz de Fora em 01 de julho de 1932. Filho de Carlos Toledo e Ana Toledo, casado com Adelina da Silva Toledo, pai de três filhos, sete netos e um bisnetos. Numa família de desportista, seu filho Paulo Henrique Toledo é professor de Educação Física, foi preparador físico do Tupi. Seu neto, Raphael Toledo é atleta profissional e atua no Novo Hamburgo, do Rio Grande do Sul. É ex-sogro do Júlio Maravilha (ex-zagueiro do Tupi). Toledo faz parte da história do Tupi, tendo atuado como atleta profissional do Clube, treinador e administrador do estádio Sales Oliveira. No futebol amador, foi campeão regional, dirigindo o Prainha da cidade de Rio Novo e campeão da Copa Bahamas, dirigindo o Nos Ball, do bairro Santa Luzia. Aos 83 anos, Toledo permanece na ativa e trabalha na administração do estádio Mário Helênio, há mais de 15 anos.
ResponderExcluirFONTE: www.carlosferreirajf.blogspot.com